O projeto propõe uma leitura visual da circulação de conteúdos sobre a enchente no Rio Grande do Sul, explorando como diferentes temas, usuários e publicações se conectam e formam narrativas digitais. Para isso, foram desenvolvidas duas visualizações interativas: um grafo radial e um diagrama de corda. Ambas foram geradas a partir de um dataset processado com ferramentas automatizadas e scripts em Python, que organizaram os dados e aplicaram métricas de engajamento (curtidas + comentários) como critério central para destaque dos nós.
A proposta dessas visualizações é tornar acessível a análise de redes complexas, com foco em temas como racismo ambiental, desinformação e atuação de influenciadores durante a crise. A combinação entre estrutura estética e funcional permite ao usuário explorar interativamente o conteúdo, reconhecendo padrões de centralidade, autoria e impacto narrativo.
A clusterização dos conteúdos foi baseada na combinação entre termos recorrentes, hashtags e contextos temáticos, resultando em seis grupos interpretativos. A seguir, apresentamos um resumo dos clusters, com suas respectivas conceituações e argumentos analíticos:
Cluster | Conceituação | Argumento analítico |
---|---|---|
Ajuda durante a enchente, ou desvio de ajuda | Publicações que denunciam problemas na distribuição de recursos, corrupção, ausência do Estado ou ineficiência da logística de ajuda. | Evidencia a atuação desigual do poder público e a mobilização autônoma da população. Mostra como o apagamento das comunidades racializadas também se dá pela falta de assistência. |
Enchente - Rio Grande do Sul | Postagens com foco geral na tragédia, volume de chuva e imagens de destruição. Narrativas amplas e impessoais. | Representa o discurso hegemônico que naturaliza a tragédia, sem abordar desigualdades estruturais como raça e classe. Serve de contraponto aos clusters mais críticos. |
Imprensa e redes sociais | Conteúdos que falam sobre a tragédia do Rio Grande do Sul, e foram veiculados nas redes sociais. Ou conteúdos que discutem o papel da mídia e das redes na visibilidade (ou não) das comunidades atingidas. | Mostra a disputa de narrativas entre mídia tradicional e mídias alternativas. Enfatiza o papel das redes sociais na denúncia e mobilização coletiva. |
Racismo ambiental | Publicações que utilizam explicitamente a hashtag ou o conceito de racismo ambiental para denunciar desigualdades raciais em tragédias. | É o núcleo crítico da rede, onde se articula o discurso político sobre desigualdade estrutural e justiça ambiental. Reflete maior consciência racializada do problema. |
Racismo ambiental e Enchente do RS | Intersecção entre os discursos sobre a enchente e o racismo ambiental, incluindo denúncias quilombolas. | Cluster central na articulação entre território e raça. Mostra como as narrativas quilombolas ganham visibilidade em certos momentos, embora ainda sejam periféricas no todo da rede. |
Rio de Janeiro | Postagens que comparam ou mencionam tragédias anteriores (como as enchentes no RJ) para traçar paralelos com o RS. | Indica a memória social e o padrão recorrente das tragédias em áreas racializadas. Reforça o argumento de que não são casos isolados, mas estruturais. |
A base de dados utilizada foi coletada via Meta Content Library e organizada com o auxílio do software Ford, desenvolvido pelo Labic (Laboratório de Internet e Ciência de Dados da Universidade Federal do Espírito Santo). Inicialmente, o dataset bruto passou por etapas automatizadas de tratamento e padronização (column_fix e search_url), garantindo consistência e completude das colunas.
Após a limpeza, manteve-se um conjunto de colunas essenciais, como nome de usuário, mensagem, número de curtidas, comentários, cluster temático e link da postagem. Uma métrica de engajamento foi criada a partir da soma ponderada de curtidas e comentários, permitindo ranquear os posts por relevância. A base final continha 866 registros, organizados em seis clusters temáticos, refletindo diferentes abordagens sobre a enchente e temas correlatos, como racismo ambiental e imprensa digital.
O grafo radial foi construído com base em uma estrutura hierárquica que organiza os dados em quatro níveis: o nó central (“Narrativas”), os clusters temáticos, os autores e suas postagens. Essa estrutura foi extraída a partir de um dataset limpo, filtrado e reformatado em JSON com auxílio de scripts em Python.
Para garantir legibilidade e foco analítico, selecionaram-se os 15% de postagens com maior engajamento (curtidas + comentários) por cluster. Cada cluster foi representado por uma cor distinta, e os rótulos dos posts foram abreviados para evitar sobrecarga visual. A interatividade inclui zoom, rotação e painel lateral com detalhes das postagens. Ao selecionar um cluster no menu, o leitor tem acesso a estatísticas específicas como número de autores e engajamento médio.
A disposição circular facilita a compreensão das hierarquias e padrões de recorrência temática, revelando a dinâmica narrativa dos conteúdos analisados.
O diagrama de corda representa as conexões entre usuários e suas postagens mais relevantes sobre a enchente no RS. A estrutura baseia-se em três blocos principais: ideograms (nós), links (conexões) e meta (metadados).
Foram selecionados os 50 posts com maior engajamento, agrupados por autores e temas. Os nós são distribuídos em torno de um círculo, com links curvos que ligam os usuários às postagens. Cada cluster tem cor própria e as postagens exibem informações completas ao clique, como autor, conteúdo, métricas e link. É possível também ativar a exibição de todos os posts de um cluster ao clicar em setores externos do grafo.
Essa visualização destaca os padrões de autoria e intensidade de engajamento, revelando os perfis mais centrais e os temas mais mobilizadores da rede. Sua estética foi pensada para equilibrar densidade informacional e clareza visual.
A construção das visualizações interativas exigiu uma série de ferramentas, que atuaram em diferentes etapas: desde a organização e limpeza dos dados, até o design visual e as interações no navegador. Abaixo, explicamos brevemente cada uma delas e seu papel dentro do projeto.
Ferramenta desenvolvida pelo Laboratório de Internet e Ciência de Dados da UFES. Foi usada para tratar e organizar o banco de dados bruto, corrigindo colunas e buscando links originais das postagens. Isso garantiu que os dados estivessem padronizados e prontos para análise, evitando erros e facilitando a visualização.
Linguagem de programação que permitiu processar os dados e gerar os arquivos necessários para os grafos. Com ela, foram aplicados filtros para destacar apenas os posts mais relevantes (com mais curtidas e comentários), além de organizar as informações em estruturas lógicas (JSON) compatíveis com os gráficos interativos.
Biblioteca de JavaScript especializada em visualizações de dados. Foi utilizada para criar os dois grafos principais do projeto: o grafo radial e o diagrama de corda. Essa ferramenta é poderosa porque permite representar dados de maneira visualmente atraente, interativa e personalizável.
HTML é a linguagem que estrutura a página do site, enquanto o CSS define a aparência visual (cores, tamanhos, espaçamentos). Com essas linguagens foi possível montar a interface da visualização, estilizar botões, painéis e textos, garantindo uma navegação fluida e intuitiva.
Linguagem de programação usada no navegador para tornar o site interativo. Foi essencial para permitir ações como clicar em um nó e abrir detalhes da postagem, girar o grafo radial, filtrar por categorias ou exibir os dados de um cluster inteiro. Também controla animações, menus e respostas aos movimentos do usuário.
A combinação dessas ferramentas permitiu que dados complexos se transformassem em representações visuais acessíveis e compreensíveis, conectando informações técnicas com leitura pública e crítica sobre as narrativas em torno da enchente no Rio Grande do Sul.